terça-feira, 4 de agosto de 2009

Conflitos de um garoto suburbano


Segredos escondidos


Em uma sexta-feira sombria exatamente às 23h30min, um jovem rapaz suburbano e cheio de conflitos, de aparência estranha e repudiada pela sociedade moderna se arrisca a adentrar num lugar escuro e frio, parecia uma castelo abandonado, onde a muito não vivia ninguém. Isso se notava pelo estado em que se encontrava o local, com pichações por todas as partes, palavras de ordem, misturadas com versos de poemas uma verdadeira bagunça, parecia que havia passado um furacão por aquele lugar, moveis derrubados, o piso rangia e se ouviam gritos ao longe como se o lugar fosse mal assombrado. Haviam retratos de pessoas por todas as partes, muitos deles quebrados ou rachados, entre eles dois em especial chamavam a atenção, o de um homem negro que aparentava seus 40 e poucos anos, com barba e cabelos grandes e o de uma moça de aparência angelical, de pele levemente morena, cabelos negros com olhos misteriosos incapazes de revelar sua verdadeira índole, os dois retratos estavam mais quebrados que os outros e apesar de passarem a impressão de que fossem as pessoas mais queridas por quem quer que tenha morado naquela casa, seu estado passava a impressão de que alguém muito irado os havia quebrado com as próprias mãos. Ao andar pela casa viam-se outros sinais de luta, paredes marcadas a soco, sangue em alguns locais, evidentemente um louco havia passado por ali. O rapaz de aparência rebelde, com botas militares, calça preta apertada, correntes por todas as partes, camisa vermelha e jaqueta preta de couro sintético coberta de rebites, e semblante ainda mais rebelde que sua aparência, parecia não se intimidar, andava e olhava tudo ao seu redor como se já conhecesse bem o local, colocava sua mão fechada nos buracos das paredes, que davam encaixe perfeito como se fosse ele o responsável por aquelas marcas, olhava os retratos os moveis, e seu olhar nada denunciava, se ele sentia medo, raiva, alegria ou qualquer sentimento que fosse, ele tinha apenas um olhar, um único semblante seco e assustador, para todos eles.

No lugar havia duas escadas, uma delas parecia não levar a lugar nenhum, e a outra levava ao porão. O rapaz como quem sabia exatamente o que queria olhou de canto a escada que não dava a lugar algum e seguiu rumo ao porão. Desceu as escadas e se deparou com uma porta trancada, tomou uns três passos de distancia e derrubou a porta num único chute, nesse momento se ouvia ao longe uma musica, de batida rápida e tocada em poucas notas com destaque para o baixo e a bateria, ouvia-se pouco o vocal, e o que se escutava não se entendia, e esse foi o único momento em que seu olhar mudou, mudou para um olhar ainda mais rebelde. Dentro do porão havia muitas tralhas, pó por toda a parte e muitas coisas cobertas com panos. O rapaz seguiu em frente e descobriu um velho baú, este por sua vez estava trancado com cadeado. Incrivelmente num ataque de fúria, como se a musica que tocava ao longe lhe desse mais força, o rapaz arrebentou o cadeado com suas mãos, sem mudar seu olhar ou fazer qualquer alteração de respiração e sem fazer um único barulho.

Ao levantar a tampa do baú alguns objetos surgiram, os retratos antes quebrados, agora inteiros, poesias, cartas, palavras de ordem em alguns cadernos, pareciam lembranças, ele se sentou no chão sem se importar com o pó e foi revirando o baú, conforme ele ia vendo aqueles retratos e aquelas cartas, vozes começavam a ecoar em sua cabeça, algumas iradas como em uma discussão, outras doces como em uma declaração de amor, seu olhar começou a mudar, sua roupa simplesmente desapareceu como num passe de mágicas e em dois tempos ele estava em vestimentas aceitas pela sociedade, estava menos, mais tímido e menos assustador, porém seu olhar ainda continuava seco, agora menos do que antes, mais ainda rebelde. Um dos retratos dentro do baú era daquela moça angelical que eu antes havia citado, em seu semblante estava claro que ele havia conhecido aquela garota, seus olhos brilharam e uma lagrima de saudade em contraste com seu semblante rebelde, rolou vagarosamente pelo seu rosto, e parou no canto de sua boca, uma outra escorreu pelo canto do olho, e fez seu caminho rumo a ponta do nariz do jovem rapaz, parou por alguns segundos e caiu rapidamente no retrato da garota, ele começou a ficar com sua aparência assustadora novamente secou suas lagrimas, e ao ver o retrato do homem barbudo, a raiva novamente do dominou o corpo, o semblante, a mente e o coração do rapaz, ele seguiu rumo a saída do porão e se deparou com a porta consertada e trancada. Novamente a derrubou e foi pra sala, sentou-se num velho sofá rasgado, e ali ficou a pensar. Mas como ele conhecia aquele lugar? Por que ele foi lá? Melhor... Por que ele havia abandonado aquele lugar com todas as suas coisas?

Eu acho que essas são as perguntas que ele fazia a si mesmo, e tentava procurar as respostas, mas não as encontrava, aquele lugar, aquelas coisas, a musica, os gritos, as coisas esquisitas que ali aconteciam eram seus segredos, segredos que ele guardava a sete chaves, e creio eu que nem ele mesmo conseguia desvendar os mistérios que envolviam aquele lugar.

2 comentários:

  1. Engraçado como fazemos isso com frequencia, simplesmente abandonamos coisas que nos machucam...Nem sempre é o mais fácil, mas é sempre mais rápido do que esperar que as coisas mudem... Acho que temos que aprender quando não vale mais a pena esperar...inclusive eu.

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  2. Arrisco dizer que somos parecidos, Karter. Ambos queremos um mundo melhor e lutamos por ele, embora de maneiras diferentes. E temos um lugar que nos pertence, onde nunca sabemos o que pode acontecer.... Gostei de ter encontrado o seu diário.

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