domingo, 14 de março de 2010

Uma nova melodia



A chuva continuava caindo e o garoto ainda estava sentado ao lado do baú. Ele buscava ouvir novamente a melodia, mas por mais que tentasse, não conseguia. Aquilo era como um complô para que seu presente fosse sem respostas e seu futuro completamente incerto.

Ele tentava organizar as idéias em sua cabeça, mas elas se tornavam mais confusas. Os retratos dos jovens e do tal homem, a melodia, os sons estridentes, a chuva, tudo aquilo parecia ter um sentido, mas como descobrir qual? E o que teria dito ao jovem para não ir ao porão? Talvez a melodia tivesse avisado de forma subconsciente que se ele o fizesse, ela cessaria, e talvez ele se arrependa de não ter seguido seu conselho. Repentinamente, somado ao barulho da chuva e dos seus pensamentos, um novo som se ouve ao longe e aos poucos se aproxima. Agora seria a melodia? Não, não seria. Era semelhante, mas apesar de ter ouvido apenas uma vez, ele conhecia a melodia, ela era doce e suave, jamais se somaria o barulho da tempestade, mas sim a encobriria.

Apesar de não ser a mesma, e pouco se assemelhar, a nova melodia também era bonita, e ao chegar mais perto ele a sentiu adentrar pelos ouvidos e tocar seu peito, lhe fazendo uma proposta tentadora. A nova melodia, o hipnotizava cantando uma oferta de uma nova vida, todas as respostas, o melhor caminho e consequentemente a felicidade. Ao soar de uma proposta o céu esbravejou ao ser cantada a condição para tais acontecimentos. A realização dos desejos do nosso garoto dependeria de uma mudança, de um novo espírito, de um novo semblante, de uma nova aparência, dependeria de sua capacidade de amar a si e a quem lhe proporcionasse tal feito.

A oferta o encantou e sem hesitar ele a aceitou, queria tanto a tal felicidade, e a realização de seu desejo maior. Então se levantou e caminhou até a saída do porão, a cada passo algo mudava no garoto, sua vestimenta passa a ser alva e requintada, seu semblante passa a resplandecer uma enorme paz, e seus olhos denunciavam a esperança de um futuro diferente do que foi seu passado e do que era seu presente.

Ele caminhou até a saída da casa e como quem fosse abandonar tudo e seguir este novo caminho, lavou-se na chuva que caía, sem temer os raios e trovões.

Com a tal melodia batendo de leve em seus ouvidos, em seu peito e a chuva em seu rosto, ele passa a acompanhar a melodia e caminha em direção ao portão de saída daquela velha casa.

Era noite e chovia, mas ele se via em meio ao paraíso num dia de sol. Continuaria assim, ou algum fator mudaria a situação?

Um comentário:

  1. Nós temos a mania de nos prender ao passado, às nossas dores, incertezas, decepções e acabar revivendo-as dia-a-dia, machucando a ferida que ja devia estar curada.Vivemos presos às nossas velhas casas, nossas carcaças sujas e dolorosas. A cada dia nos é proposto um novo caminho, mas para percorre-lo é necessário abrirmos mão das antigas desilusões, nossas dores de estimação, nosso passado que aparenta estar tão arraigado ao coração de modo que nos parece impossível sobreviver sem ele. O amor é como uma nova melodia, uma nova casa, limpinha e preparada para ser ocupada por nós, sem receios, sem dores, sem sofrimentos antigos...Só é necessário uma decisão nossa, para que ela nos pertença. Só é necessário que nos permitamos experimentar desta felicidade...

    ResponderExcluir